Ángela Morgan

Belíssima ilustração do meu cabeçalho é da ilustradora - Ángela Morgan

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

MEDO É FICÇÃO

                    MEDO É FICÇÂO

      “O medo é um olho que nos espreita
E mora dentro da gente.”
Margaret Wild - A raposa


     O medo é um sentimento projetado. Na expectativa do que encontramos ou do que nos espera por lá. É uma dor que se lança para além de nós, sem direção, à deriva da nossa consciência. “Se há uma coisa que aprendi aqui, é que medo do perigo é sempre muito maior do o próprio perigo”, desabafa Robison Crusoe, de Daniel Defoe, em conversa com o personagem Sexta–feira. É, portanto, na imaginação que se instala esse medo danado.   Criamos uma história assustadora para nós mesmos e esperamos assombrados, pela nossa execução.

    Em artigo intitulado “Os mistérios do medo“ o psicanalista Roberto Curi Hallal afirma que,  vinculado à sobrevivência , o medo tem sua base no princípio da ameaça ao abandono e ao desprezo das pessoas queridas e às criticas acusatórias da própria consciência.  Ela estará presente de várias formas e intensidades em todas as etapas da vida:

   “Todas as crianças apresentam uma fobia evolutiva.  Em torno dos 4 ou 5 anos de idade apresentam medo.  Uns, de ruídos;  outros de objetos, mas  é universal  a presença das chamadas fobias evolutivas .  Na adolescência se acrescem as exigências e o medo maior dos adolescentes é decepcionar por não corresponder às  expectativas em torno de suas tarefas e desempenhos. “  ( Hallal, Roberto Curi)


      Recentemente, a Editora  CosacNaify lançou o livro Cric Croc Pi Ploft, com texto e ilustração de Kitty Crowther:  “ quando  cai a noite, o sapinho Jerônimo sente medo.  E tudo é motivo para adiar a hora de dormir: um beijinho, uma história, outro beijinho, um abraço. Quando se vê sozinho e o Cric, crec,PI, ploft começa a soar debaixo da cama, a saída é correr para o quarto dos pais.  Mas , em algum momento, ele precisará enfrentar seus medos.  E nada melhor do que fazê-lo na companhia do pai.  Quando o papai sapo vai dormir na cama do filho, também ouve o ruído amedrontador .  Assim, juntos eles vão se encher de coragem e encarar seus temores, em busca de origem do barulho”.

        Lendo a resenha do livro percebemos como o sapinho Jerônimo se parece com a criança que fomos um dia e coma criança que nossos filhos são agora.   A companhia do pai na verificação dos barulhos, a revelação dos sons, antes assustadores, agora divertidos, encantadores, pode significar uma profunda descoberta para as crianças: o medo nasce das suspeitas e incertezas sobre o mundo e para perdê-lo só há um caminho, confiança e afeto.

         Tudo isso, de alguma forma, vai construir o adulto que seremos.  E se é na imaginação que se constrói o medo é para lá que devemos ir, na contramão da realidade, para elaborar, ou quem sabe, resolver parte desses medos.  A literatura tem sido uma forte inesgotável de enredos, personagens e palavras que conduzem à abertura da nossa consciência.  É no espaço criativo e irreal da ficção que ampliamos o conhecimento do mundo, de nossas carências, de nossos afetos e, portanto, de todos os nossos medos.  Nos primeiros anos são as bruxas, as madrastas, os lobos, os vampiros e todos  os seres assustadores que nos acompanham até adormecer.  Mais  tarde, esses mesmos seres  assustadores se travestem de novos formatos e tamanhos, mas não deixam de nos acompanhar até adormecer.  É preciso coragem para aprender a lidar com eles.
Grandes escritores da Literatura Brasileira, como Monteiro Lobato  e Mário de Andrade, se dedicaram profundamente a resgatar histórias e lendas da nossa cultura popular , do nosso folclore, que tratam de seres amedrontadores, divertidos, malcriados e preguiçosos; todos personagens inesquecíveis da nossa infância.  E como o mês de agosto é tradicionalmente o mês do folclore, que tal resgatá-los, sem medo?

Adriana Bittencourt Guedes
Coordenadora de Língua e Literatura da escola do Pedro


Amara Mourige

5 comentários:

  1. O medo acontece na criança de forma normal e cabe a quem os educa minimiza- los
    O medo, inclusive no adulto é uma forma de defesa, de proteção, mas deve sempre ser equilibrado.
    Beijos.

    ResponderExcluir
  2. Oii Amara, por esse texto de Adriana podemos perceber a importância do incentivo a leitura para nossas crianças, como é fundamental o papel da literatura sobre a formação do adulto que elas serão! Muito bom texto e as dicas que vieram junto! Bjoooss

    ResponderExcluir
  3. O medo aparece sempre.Bom desmistificá-lo!! Boa dica! beijos,chica

    ResponderExcluir
  4. Que texto super interessante! sabe que ontem ainda eu falava aqui em casa sobre o medo e a decisão de enfrentar alguns que ainda tenho, aliás, muitos. E chego aqui, voce com este texto tão bacana e esclarecedor. Adorei! mais um ótimo post, Amara! só reforçou a minha decisão. Vamos lá, enfrentá-los!

    Um beijo com muito carinho!

    ResponderExcluir
  5. Olá amiga,
    Um artigo bem interessante da forma como o aborda aqui.
    O medo que nasce connosco como instinto de defesa que vai sendo debelado à medida que vamos ganhando maturidade. E esta só se consegue mesmo com muito afeto.
    O afeto sempre bem importante durante toda a nossa vida assim como a literatura que pode dar um excelente contributo para desmistificá-lo.
    Um beijinho e muito grata pelo seu carinho no meu canto.

    ResponderExcluir