MEDO É FICÇÂO
“O medo é um olho que nos espreita
E mora dentro da gente.”
Margaret
Wild - A raposa
O medo é um sentimento projetado. Na expectativa
do que encontramos ou do que nos espera por lá. É uma dor que se lança para
além de nós, sem direção, à deriva da nossa consciência. “Se há uma coisa que
aprendi aqui, é que medo do perigo é sempre muito maior do o próprio perigo”,
desabafa Robison Crusoe, de Daniel Defoe, em conversa com o personagem Sexta–feira.
É, portanto, na imaginação que se instala esse medo danado. Criamos uma história assustadora para nós
mesmos e esperamos assombrados, pela nossa execução.
Em artigo intitulado “Os mistérios do medo“
o psicanalista Roberto Curi Hallal afirma que,
vinculado à sobrevivência , o medo tem sua base no princípio da ameaça
ao abandono e ao desprezo das pessoas queridas e às criticas acusatórias da própria
consciência. Ela estará presente de
várias formas e intensidades em todas as etapas da vida:
“Todas as crianças apresentam uma fobia evolutiva. Em torno dos 4 ou 5 anos de idade apresentam
medo. Uns, de ruídos; outros de objetos, mas é universal
a presença das chamadas fobias evolutivas . Na adolescência se acrescem as exigências e o
medo maior dos adolescentes é decepcionar por não corresponder às expectativas em torno de suas tarefas e
desempenhos. “ ( Hallal, Roberto Curi)
Recentemente,
a Editora CosacNaify lançou o livro Cric
Croc Pi Ploft, com texto e ilustração de Kitty Crowther: “ quando
cai a noite, o sapinho Jerônimo sente medo. E tudo é motivo para adiar a hora de dormir:
um beijinho, uma história, outro beijinho, um abraço. Quando se vê sozinho e o Cric,
crec,PI, ploft começa a soar debaixo da cama, a saída é correr para o quarto
dos pais. Mas , em algum momento, ele
precisará enfrentar seus medos. E nada
melhor do que fazê-lo na companhia do pai.
Quando o papai sapo vai dormir na cama do filho, também ouve o ruído
amedrontador . Assim, juntos eles vão se
encher de coragem e encarar seus temores, em busca de origem do barulho”.
Lendo a resenha do livro percebemos
como o sapinho Jerônimo se parece com a criança que fomos um dia e coma criança
que nossos filhos são agora. A
companhia do pai na verificação dos barulhos, a revelação dos sons, antes
assustadores, agora divertidos, encantadores, pode significar uma profunda
descoberta para as crianças: o medo nasce das suspeitas e incertezas sobre o
mundo e para perdê-lo só há um caminho, confiança e afeto.
Tudo isso, de alguma forma, vai
construir o adulto que seremos. E se é
na imaginação que se constrói o medo é para lá que devemos ir, na contramão da realidade,
para elaborar, ou quem sabe, resolver parte desses medos. A literatura tem sido uma forte inesgotável
de enredos, personagens e palavras que conduzem à abertura da nossa
consciência. É no espaço criativo e irreal
da ficção que ampliamos o conhecimento do mundo, de nossas carências, de nossos
afetos e, portanto, de todos os nossos medos.
Nos primeiros anos são as bruxas, as madrastas, os lobos, os vampiros e
todos os seres assustadores que nos
acompanham até adormecer. Mais tarde, esses mesmos seres assustadores se travestem de novos formatos e
tamanhos, mas não deixam de nos acompanhar até adormecer. É preciso coragem para aprender a lidar com
eles.
Grandes escritores da Literatura Brasileira, como Monteiro Lobato e Mário
de Andrade, se dedicaram profundamente a resgatar histórias e lendas da nossa
cultura popular , do nosso folclore, que tratam de seres amedrontadores,
divertidos, malcriados e preguiçosos; todos personagens inesquecíveis da nossa
infância. E como o mês de agosto é tradicionalmente
o mês do folclore, que tal resgatá-los, sem medo?
Adriana Bittencourt Guedes
Coordenadora de Língua e Literatura
da escola do Pedro
Amara Mourige
O medo acontece na criança de forma normal e cabe a quem os educa minimiza- los
ResponderExcluirO medo, inclusive no adulto é uma forma de defesa, de proteção, mas deve sempre ser equilibrado.
Beijos.
Oii Amara, por esse texto de Adriana podemos perceber a importância do incentivo a leitura para nossas crianças, como é fundamental o papel da literatura sobre a formação do adulto que elas serão! Muito bom texto e as dicas que vieram junto! Bjoooss
ResponderExcluirO medo aparece sempre.Bom desmistificá-lo!! Boa dica! beijos,chica
ResponderExcluirQue texto super interessante! sabe que ontem ainda eu falava aqui em casa sobre o medo e a decisão de enfrentar alguns que ainda tenho, aliás, muitos. E chego aqui, voce com este texto tão bacana e esclarecedor. Adorei! mais um ótimo post, Amara! só reforçou a minha decisão. Vamos lá, enfrentá-los!
ResponderExcluirUm beijo com muito carinho!
Olá amiga,
ResponderExcluirUm artigo bem interessante da forma como o aborda aqui.
O medo que nasce connosco como instinto de defesa que vai sendo debelado à medida que vamos ganhando maturidade. E esta só se consegue mesmo com muito afeto.
O afeto sempre bem importante durante toda a nossa vida assim como a literatura que pode dar um excelente contributo para desmistificá-lo.
Um beijinho e muito grata pelo seu carinho no meu canto.