Bem quisera escrevê-la
com palavras sabidas,
as mesmas, triviais,
embora estremesssem
a um toque de paixão.
Perfurando os obscuros
canais de argila e sombra,
ela iria contando
que vou bem ,e amo sempre
e amo cada vez mais
a essa minha maneira
torcida e reticente,
e espero uma resposta,
mas que não tarde; e peço
um objeto minuscúlo
só para dar prazer
a quem pode ofertá-lo;
diria ela do tempo
que faz do nosso lado;
as chuvas já secaram,
as crianças estudaram,
uma última invenção
(inda não é perfeita)
faz ler nos corações,
mas todos esperamos
rever-nos bem depressa.
Muito depressa,não.
Vai-se tornando o tempo
estranhamente longo
à medida que encurta.
O que ontem disparava,
hoje se paralisa
em esfinge de mármore,
e até o sono,o sono
que era grato e era absurdo
é um dormir acordado
numa planície grave.
Rápido é o sonho, apenas,
que se vai,de mandar
notícias amorosas
quando não há amor
a dar ou receber;
quando só há lembrança,
ainda menos ,pó,
menos ainda,nada,
nada de nada em tudo,
em mim mais do que em tudo,
e não vale acordar
quem acaso repousa
na colina sem árvores.
Contudo,esta é uma carta.
Amara Mourige
Nenhum comentário:
Postar um comentário